sábado, 31 de março de 2012

Melancolia...


 Oh doce luz! oh lua! Que luz suave a tua, E como se insinua Em alma que flutua De engano em desengano! Oh criação sublime! A tua luz reprime As tentações do crime, E a dor que nos oprime Abres-lhe um oceano! É esse céu um lago, E tu, reflexo vago D'um sol, como o que eu trago No seio, onde o afago, No seio, onde o aperto? Oh luz órfã do dia! Que mística harmonia há n'essa luz tão fria, E a sombra que me guia N'este areal deserto! Embora as nuvens trajem De dia outra roupagem, O sol, de que és imagem, Não tem essa linguagem Que encanta, que namora! Fita-te a gente, estuda, (Sem medo que se iluda) Essa linguagem muda... O teu olhar ajuda... E a gente sente e chora! Ah! sempre que descrevas A orbita que levas, Confia-me o que escrevas De quanto vês nas trevas, Que a luz do sol encobre! As vitimas, que escutas, De traças mais astutas Que as dessas feras brutas... E as lastimas, as lutas Da órfã e do pobre! 
 João de Deus, in 'Ramo de Flores'

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